sexta-feira, 22 de abril de 2011

PÁSCOA - Festa da Ressurreição de Jesus


Ressuscitemos com Cristo
Padre José Assis Pereira

   Apesar da situação de pecado e morte que existe no mundo, hoje a Igreja unida a seu Senhor proclama feliz o grande mistério da volta de Jesus à vida. Deixemo-nos inundar pela graça deste fato que nos enche de esperança segura e eficaz com a fé cristã que recebemos em nosso Batismo. A Ressurreição de Jesus é a celebração cume e centro de todo o Ano Litúrgico que se renova a cada Domingo, páscoa semanal.



O mistério da Ressurreição de Cristo é um acontecimento real que teve manifestações historicamente constatadas, como atesta o Novo Testamento, é, ainda que de nenhuma maneira possa ser constatado pela ciência de maneira direta, pois é um fato totalmente inédito e transcendente que está para além do espaço e do tempo; caminho aberto para a eternidade que unicamente se conquista pela fé e com a luz da ciência humana sujeita a esta fé transcendente e misteriosa. A ressurreição de Lázaro foi milagre, ele retomou à vida terrestre, mas a ressurreição de Cristo é mistério.

“A Ressurreição de Jesus é a verdade culminante de nossa fé em Cristo, crida e vivida como verdade central da primeira comunidade cristã, transmitida como fundamental pela Tradição, estabelecida pelos documentos do Novo Testamento, pregada, juntamente com a Cruz, como parte essencial do Mistério Pascal. Cristo ressuscitou dos mortos. Por sua morte venceu a morte. Aos mortos deu a vida.” (Catecismo da Igreja Católica (CaIC) n. 638)

“Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou!” (Lc 24, 5-6) “No quadro dos acontecimentos da Páscoa, o primeiro elemento com que se depara é o sepulcro vazio. Ele não constitui em si uma prova direta. A ausência do corpo de Cristo no túmulo poderia explicar-se de outra forma. Apesar disso, o sepulcro vazio constitui para todos um sinal essencial. Sua descoberta pelos discípulos foi o primeiro passo para o reconhecimento do próprio fato da Ressurreição.” (CaIC n. 640)

Os cristãos durante muito tempo tiveram dificuldades com a palavra “ressurreição”, aplicada ao Senhor, falaram da sua ida ao Pai, da vitória sobre a morte, da nova vida. É que Jesus não morre como o que se vai e ressuscita com o que regressa. Ressuscitar não é dar um passo atrás, mas um salto adiante. Não regressa à vida, mas entra na verdadeira Vida. O significado da ressurreição corporal de Jesus para judeus cristãos do primeiro século comporta três negações: “Por ‘ressurreição’ eles não queriam dizer simplesmente ressuscitação corporal, falavam de ressurreição após ou no terceiro dia, insistiam que ele estivera real e verdadeiramente morto. Por ressurreição eles não queriam dizer simplesmente aparição pós-morte: primeiro, visões ou aparições de entes queridos mortos, especialmente daqueles que morreram súbita, trágica ou brutalmente, são parte normal da experiência humana; segundo, estados alterados de consciência, tais como sonhos e visões são algo comum à nossa humanidade, algo programado em nossos cérebros, algo tão normal quanto a própria linguagem. Eram reconhecidas como possibilidades comuns no começo do primeiro século e ainda são e se as julga objetivas, subjetivas ou interativas é outra questão; terceiro, portanto, mesmo que ninguém tivesse mencionado isso no Novo Testamento, teria sido extraordinário se não tivessem havido aparições de Jesus a alguns de seus companheiros após a morte. Mas, e é isto que quero dizer, aparições de Jesus não constituem ressurreição. Elas constituem aparições, nem mais nem menos. Por ressurreição eles não queriam dizer exaltação corpórea. Ficava bem na tradição judaica que uma pessoa muito santa pudesse ser alçada aos céus por Deus, pudesse escapar da morte, apodrecimento e xeol, mesmo antes que qualquer pessoa falasse de ressurreição corporal ou imortalidade espiritual. Semelhante, quando Elias e Eliseu caminhavam e conversavam perto do Jordão, um carro de fogo e cavalos de fogo os separaram um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho (2Rs 2,11). Isso é exaltação, assunção, ascensão ou apoteose, mas não é ressurreição. Por ressurreição eles queriam dizer a ressurreição corpórea geral. Dentro da cultura judaica do primeiro século, falar da ressurreição de Jesus afirmava que a ressurreição geral já havia começado... como “primícias dos que morreram” (1Cor 15,20), como o início de uma ressurreição como colheita e, claro, dessa metáfora não se esperaria um atraso prolongado, mas sim um processo rápido e contínuo até se completar a colheita... Primeiro, da ressurreição de Jesus à ressurreição geral: “Ora se se prega que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos?” (15,12) Segundo, e ainda mais enfatizado, da ressurreição geral para a ressurreição de Jesus: “Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo não ressuscitou.” (15,13) De novo: “Se os mortos não ressuscitam, estaríamos testemunhando contra Deus que ele ressuscitou Cristo enquanto, de fato, ele não o teria ressuscitado.” (15,15) E de novo: “Se os mortos não ressuscitam, então Cristo também não ressuscitou.” (15,16) Naturalmente, é claro, diante de sua compreensão judaica e farisaica da ressurreição corporal, não existe possibilidade de que Jesus fosse “erguido” como um privilégio especial e pessoal (algo como nepotismo ou “filhotismo” divino).” (Nogueira, 2009.) Cristo ressuscitou dentre os mortos e é o primeiro de todos os que pela fé haveremos de ressuscitar com ele. É a verdade nuclear do cristianismo, como fundamento, conteúdo e raiz de nossa fé: “Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é sem fundamento, e sem fundamento também é a vossa fé.” (1Cor 15,14)

“A Ressurreição de Cristo constitui antes de mais nada a confirmação de tudo o que o próprio Cristo fez e ensinou. Todas as verdades, mesmo as mais inacessíveis ao espírito humano, encontram sua justificação se, ao ressuscitar, Cristo deu a prova definitiva, que havia prometido, de sua autoridade divina [...] cumprimento das promessas do Antigo Testamento e do próprio Jesus durante sua vida terrestre [...] a verdade da divindade de Jesus é confirmada por sua Ressurreição.”(CaIC n. 651-653) É a plenitude da encarnação, da vida de Jesus Cristo e do eterno plano de amor de Deus Pai para salvar a humanidade morta pelo pecado.

Os pais são sempre os primeiros a crer na bondade de seus filhos, porque são os que mais lhes amam. É tremendo o poder e a força do amor. Por isso, é importantíssimo selecionar e cuidar dos nossos amores. Porque aonde nossos amores nos levam, ali mergulhamos de cabeça. Maria de Magdala e as santas mulheres, que vinham terminar de embalsamar o corpo de Jesus, sepultado às pressas, devido à chegada do Sábado, na tarde da Sexta-feira Santa, foram as primeiras a encontrar o Ressuscitado (Lc 24, 1-12; Jo 20, 1-9). Assim as mulheres foram as primeiras mensageiras da Ressurreição de Cristo para os próprios apóstolos. A Maria Madalena se lhe havia perdoado muito, porque havia amado muito; João era o discípulo amado do Senhor, Pedro o que havia negado Jesus diante do ressuscitado declarará também o seu amor ao Senhor. Os três eram discípulos do amor, se nós queremos ressuscitar de nossas imensas travas materiais, se quero viver como pessoa ressuscitada tenho que por em meu corpo as asas do amor ao Cristo Ressuscitado pelo Deus do amor. Maria Madalena foi a primeira a correr ao sepulcro, quando ainda estava escuro o dia e triste e obscura sua alma. Era o amor o que lhe dava luz e asas para levar a seu amado. João correu mais que Pedro que no entanto entrou no túmulo vazio e, enquanto via o sepulcro assim, creu na luz e na vida de seu amado Mestre. Provavelmente, aos cristãos de hoje nos falta mais amor que doutrina. Queremos distinguir-nos pela beleza de nossos ritos, de nossa liturgia, e isto é bom que nossa ação litúrgica seja bela e densa de espiritualidade. Mas, o que, de verdade deve distinguir-nos, cristãos dos não cristãos, é o amor que nós tenhamos uns aos outros e nosso amor a todos os demais, sobretudo aos preferidos de Deus, os mais pobres e necessitados. Nisso conhecerão os outros que somos discípulos do Ressuscitado, aquele que passou pelo mundo fazendo o bem e curando os oprimidos.

Somos pessoas ressuscitadas. Pelo Batismo fomos enxertados na morte e Ressurreição de Cristo. A força e graça deste maravilhoso acontecimento na existência dos cristãos podem e devem traduzir-se de múltiplas maneiras na vida cotidiana. Ressuscitar é tarefa e meta de cada dia. Nossa caminhada pelo mundo é conquistar em cada momento o estado de “ressuscitados” buscando fazer em todo momento a vontade de Deus.

A experiência vital do Cristo Ressuscitado no cristianismo se faz ou não se faz, se tem ou não e a pode fazer qualquer cristão, não pensemos que esta experiência é só para uns poucos místicos. Porém, não posso mandar um representante para que faça a experiência por mim. Esta experiência viva e intensa toca e muda a mentalidade, o estilo de vida, o modo de relacionar-se com os outros, as minhas ações, até o meu caráter. Se você já fez esta experiência do Ressuscitado em sua vida você concordará certamente comigo, se, no entanto, você não a fez, peça ao Senhor que lhe conceda fazê-la o quanto antes. Que melhor dia para se pedir a graça desta experiência que este Domingo de Páscoa?

Pela oração constante fazemos a experiência de ressuscitarmos para a escuta de Deus, a docilidade do Espírito e a comunhão com o Corpo de Cristo, sua Igreja que ora. Fazendo o bem ou dedicando um pouco do nosso tempo livre aos mais frágeis e desamparados, ressuscitamos com Cristo do nosso egoísmo. Quando pedimos ou damos o perdão a quem nos ofendeu, isto é ressuscitar para uma vida nova em Cristo. Ao aceitar com paciência, amor e entrega generosas nossas enfermidades, dores, sofrimentos ou provações, estamos ressuscitando passando da dor para a alegria. Demos testemunho de nossa experiência de fé com o Ressuscitado como Madalena, Pedro e João o fizeram com todos; eles viram o túmulo vazio, creram e testemunharam que Cristo está vivo.



Fonte: Paraíba Online

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