segunda-feira, 27 de setembro de 2010

MISTAGOGIA

OFICINA: Mistagogia
Seminarista Aldevan

O tema da mistagogia nos conduz à teologia desenvolvida pelos Santos Padres. Uma teologia que envia à Liturgia, à pedagogia divina, à dinâmica da Revelação, à fé como experiência pessoal e comunitária, à Igreja como sacramento de Jesus Cristo no mundo. Compreendemos que, seja qual for o campo de atuação pastoral, deve haver uma pedagogia própria que perpassa a ação evangelizadora. Uma pedagogia que se dá a partir de um diálogo que Deus vai tecendo amorosamente com cada pessoa e com cada comunidade e que se torna como um “eco” desta autocomunicação divina, uma mediação entre a ação divina e a realidade pessoal, histórica e social.
Perguntamo-nos, então, como se desenvolveu o processo de evangelização na caminhada inicial da Igreja? Teriam, os primeiros discípulos, na sua prática de anunciar a Boa Nova, uma pedagogia própria? Ao estruturar o catecumenato primitivo, os Padres da Igreja estavam atentos à dinâmica da Revelação? Poderíamos encontrar na experiência fontal da Igreja dos primeiros séculos a orientação que buscamos para a ação evangelizadora hoje?
Buscando nas fontes mais antigas e primeiras da tradição eclesiástica, encontramos uma experiência da iniciação à fé cristã que é fonte da sabedoria patrística: a experiência mistagógica de Cirilo de Jerusalém, presente em suas homilias voltadas aos catecúmenos e aos neófitos, em fins do século III e no século IV.
Contudo, a teologia dos Padres bebe nas fontes primitivas, na Igreja dos primeiros tempos e na evangelização apostólica: momento primeiro e fundante do cristianismo, caracterizado fortemente pela obra do Espírito Santo, que suscita e vivifica a comunidade nascente, age nela e por ela. A Igreja dos primeiros séculos é missionária porque vive a experiência forte e revolucionária do mistério pascal, Cf. DGC n. 144.e não pode fazer outra coisa a não ser transmiti-lo como novidade e alegria. “Cada batizado era, para seu ambiente, uma testemunha”.
Esta teologia torna-se normativa para a prática evangelizadora de todos os tempos e situações. Nela encontramos a dinâmica da Revelação vivida sob o impulso das expectativas, das resistências e dos desafios do ambiente de vida em que a comunidade experimenta os primeiros passos e interpelações ao Cristianismo diante do cotidiano e do mundo. É uma teologia que nasce no seio vivo de uma comunidade a caminho e, no entanto, sob o impulso renovador e transformador de todas as estruturas: a Ressurreição de Jesus Cristo.
A Igreja nascente, seguindo a trajetória da evangelização apostólica, dedicava grande cuidado à iniciação à fé cristã e seguimento de Jesus. A atividade que se iniciou com a pregação missionária passou por um processo de organização e de estruturação e veio a se tornar uma instituição eclesial, denominada catecumenato.
O Cristianismo primitivo passa a empregar o termo específico katecheo, que significa, basicamente, ensinar de “viva voz” sobre a ação salvífica de Deus. Segundo esta concepção, o ensinamento catequético é como um eco, o ressoar da Palavra de Deus mediante a voz do catequista. Na verdade, a catequese era tida como a transmissão viva do depósito de fé da Igreja aos novos membros que a ela se agregavam. O catecúmeno seria aquele que está sendo iniciado nessa “escuta”, não de uma palavra qualquer, mas da Palavra de Deus.

A MISTAGOGIA COMO EIXO REFERENCIAL DO CATECUMENATO DOS SÉCULOS III E IV
No catecumenato antigo, a Iniciação Cristã foi orientada como um caminho de introdução, abertura e diálogo com o Mistério de Deus. O princípio fundante e dinamizador do caminho é o próprio Deus que se revela na história a cada homem e mulher, em seu tempo e lugar.
A espiritualidade, a liturgia e pedagogia são dimensões integradas no caminho de Iniciação Cristã na Igreja dos séculos III e IV. A relação dialógica entre estas três dimensões fundamentais do processo de Iniciação Cristã ocorre porque os Padres da Igreja possuem uma teologia de fundo: a mistagogia. Segundo E. Mazza, a mistagogia foi conhecida na tradição como a explicação teológica do fato sacramental ou dos ritos que compõem a celebração litúrgica, contudo é muito mais do que um gênero literário ou uma metodologia pastoral-litúrgica. A mistagogia é a teologia dos primeiros tempos.
O termo mistagogia tem sua origem em dois vocábulos gregos: mystes, que significa mistério, e agein, que significa conduzir. Mistagogia vai adquirir o sentido de ‘conduzir através do mistério’, ‘iniciar ao conhecimento do mistério’. Este novo termo, construído na conjugação destes dois vocábulos, carrega em si um sentido profundo: o enraizamento no conceito de mistério e a ação mediadora, de aproximação deste mesmo mistério.
A palavra ‘mistagogia’ também aparece nos cultos pagãos – conhecidos como cultos mistéricos -, contudo, não podem ser concebidos como análogos à mistagogia dos Padres do III e IV séculos. Etimologicamente possui o sentido de ser conduzido para o interior dos mistérios, e, na Iniciação Cristã, para o Mistério que é “Cristo em nós, esperança da glória” (Cl 2,19). Na antiguidade cristã, o termo ‘mistagogia’ designa, sobretudo, a explicação teológica e simbólica dos ritos litúrgicos da iniciação, em particular do Batismo e da Eucaristia. Outro sentido para a mistagogia está relacionado à ação sacramental, que configura o neófito como nova criatura, renascido pela água do Batismo e alimentado com o Pão da Vida.
São os Padres Capadócios os primeiros a aplicarem o termo mistagogia às ações sacramentais do Batismo e Eucaristia. Em Gregório de Nazianzo, o termo mistagogia indica a ação sacramental em três expressões: o Batismo, a Eucaristia e o ministério presbiteral, visto como exercício da mistagogia, que o sacerdote cumpre em nome de Cristo, em virtude de sua ordenação.
Ambrósio de Milão apresenta suas homilias de caráter mistagógico  sempre depois dos sacramentos da Iniciação Cristã. Suas explicações pressupõem a experiência do Mistério de Deus através de descrições, questões e aprofundamento.
O termo ‘mistério’ aponta para uma realidade desconhecida, íntima, oculta, uma presença por se revelar. No Cristianismo, o Mistério de Deus se revela à humanidade e convida a uma abertura existencial, que conduz tudo e todos à plena realização. É a História da Salvação, plenificada na encarnação, na redenção, na Páscoa de Jesus. É o Mistério pascal, ou Mistério de Cristo, Mistério da fé.
A liturgista I. Buyst apresenta dois momentos constitutivos do Mistério pascal que se faz presente nas celebrações eucarísticas: a liturgia da Palavra e a liturgia sacramental. “Na liturgia, o mistério pascal de Jesus se faz presente, em toda a sua densidade e extensão, atuando no rito litúrgico, na celebração memorial, principalmente na celebração eucarística. É o mistério da fé presente na e pela ação ritual que inclui: a narrativa e interpretação dos fatos - liturgia da Palavra -; e as ações simbólicas relacionadas com esses fatos - liturgia sacramental”.
A fonte deste saber reside na elaboração dos Padres da Igreja da liturgia recebida pelas tradições apostólicas, em diálogo com as reflexões teológicas de seu tempo. A Palavra de Deus é fonte mistagógica e as ações litúrgicas são sinal e presença do próprio Cristo, mistagogia viva e fecunda para a comunidade eclesial que se reúne em torno deste altar. Desde estas releituras, podemos compreender mais facilmente os dois elementos mais constantes na concepção de ‘mistagogia’ nos Padres da Igreja: a liturgia sacramental e a sua explicação teológica. Cirilo elabora sua teologia a partir dos Padres Gregos e de autores judeus e pagãos, como Filon e Plotino. Sua obra é largamente documentada com escritos exegéticos, morais, ascéticos, dogmáticos, além de discursos, cartas e hinos.
Para além destes dois elementos acessíveis na teologia dos Padres, encontramos outros sentidos igualmente relevantes para compreendermos a mistagogia como fundamento teológico de suas reflexões e ações litúrgico pastorais. Elencamos abaixo diversos sentidos para a mistagogia, a partir dos termos encontrados nas obras patrísticas do século III e IV:
  • Como iniciação ao Mistério;
  • Como instrução nos Mistérios divinos;
  • Como exposição dos significados da Sagrada Escritura;
  • Como orientação, guia no caminho misterioso de Deus;
  • Como o próprio Mistério que se revela;
  • Como a própria Sagrada Escritura;
  • Como ação sacramental – Batismo e Eucaristia;
  • Como celebrações dos ritos;
  • Como o tempo da Páscoa, incluindo o período quaresmal;
  • Como princípio fundante e dinâmico do sacerdócio;
  • Como Povo de Deus a caminho;
  • Como Igreja, sacramento de Cristo no mundo.
Importa para nós o fato de que a ‘mistagogia’ para os Padres é um eixo diferente do eixo catequético. É a referência central de sua teologia, a partir da experiência espiritual da Igreja enquanto comunidade de fiéis, que tem sua razão de ser na vivência, sempre mais profunda, do Mistério Pascal do Senhor.
Na sabedoria dos Padres da Igreja, a mistagogia é a vida da Igreja, em sua dimensão espiritual, litúrgica, pastoral, contemplativa e escatológica. Esta sabedoria é expressa nas obras patrísticas revelando os vários aspectos que envolvem sua compreensão de mistagogia:
ü  É fonte de abertura à dinâmica da Revelação;
ü  É caminho, percurso, trajetória de adesão, crescimento, aperfeiçoamento;
ü  É participação nos ritos e celebrações litúrgicas;
ü  É a Palavra acolhida e que revoluciona a dinâmica pessoal e comunitária;
ü  É contemplação orante do Mistério que se revela na história da humanidade;
ü  É a penetração progressiva até o encontro definitivo com o Mistério de Deus;
ü  É a Igreja sacramental e caminhante no mesmo processo mistagógico.
A mistagogia nos Padres dos séculos III e IV é tudo isto, mas é ainda mais. Porque não é um conceito que se esgota nas categorias teológicas. Sublinhamos as duas mãos na dinâmica da Revelação – Deus e a pessoa humana – e, nessa perspectiva, podemos perceber o caráter ativo e criativo deste processo nos contextos pessoais, comunitários, sociais, históricos e escatológicos. A mistagogia é um fundamento e uma experiência na qual se entra e se caminha até o encontro definitivo de toda a Criação em Deus.

O CAMINHO MISTAGÓGICO NAS CATEQUESES MISTAGÓGICAS
As Catequeses Mistagógicas orientavam-se à instrução dos neófitos, como um percurso de introdução à fé, incluindo o catecumenato e a instrução batismal. As Catequeses Mistagógicas são um valioso testemunho de como a Igreja, no final do século III e início do século IV, vivenciava este período catecumenal, do desenvolvimento alcançado pela consciência dogmática eclesial, e a imprescindível relação entre a catequese e liturgia no processo de Iniciação Cristã. Cirilo de Jerusalém, em unidade com os seus contemporâneos, consideravam a mistagogia como um tempo forte e determinante para o conhecimento e para a adesão à fé e privilegiava o trabalho de iniciação à vida cristã.
A catequese mistagógica pressupunha as etapas anteriores e a dimensão da graça sacramental dos sacramentos de iniciação - Batismo, Confirmação e Eucaristia -, recebidos na vigília pascal. Era uma nova etapa catequética e sacramental, delimitada pela oitava pascal e que poderia estender-se até Pentecostes. Compreendia-se que os neófitos, renovados em seu espírito, assimilavam mais profundamente os mistérios da fé e os sacramentos da Igreja, experimentando quão “suave é o Senhor”. (Mt 11,30)

MAS O QUE É MISTAGOGIA?
Mistagogia é uma palavra que está sendo bastante usada ultimamente no estudo da catequese, da liturgia, da teologia. O Concílio Vaticano II já havia decidido pela restauração do catecumenato, com seu tempo de mistagogia, para as pessoas que aderem pela fé a Jesus Cristo e querem fazer parte da comunidade cristã. O RICA (Ritual de Iniciação Cristã de Adultos) incorporou este tempo de mistagogia. Tanto o Diretório Nacional de Catequese, quanto o recente publicado Diretório Nacional 2, insistem na dimensão mistagógica da formação cristã. O papa João Paulo II disse: “É mister (...) que os Pastores encontrem a maneira de fazer com que o sentido do mistério penetre nas consciências, redescobrindo e praticando a arte mistagógica , tão querida aos Padres da Igreja.”  Na teologia litúrgico-sacramental começa a se impor o método mistagógico , no qual se faz teologia partindo da análise do rito e da experiência do mesmo  . Numa carta escrita em preparação à 5ª Assembléia Geral do CELAM, o teólogo Jon Sobrino sugere que, em vez de insistir na mera doutrina, devemos oferecer mistagogia e credibilidade. “... cada vez é mais necessária a mistagogia que conduz ao mistério de Deus. Significa introduzir-nos num mistério que é maior, mas que não reduz a pequenez, que é luz, mas que não cega, que é acolhida, mas que não impõe”.
O que está em jogo na mistagogia? Nada mais, nada menos que nossa relação com o mistério de Deus, que é o mistério de nossa própria vida e da história. Ninguém consegue ‘explicar' Deus. É impossível reduzir a realidade de Deus a conceitos racionais. É impossível reduzir a fé à aceitação de dogmas. É necessário que sejamos ‘iniciados' no mistério, não somente com palavras, mas principalmente através de ações simbólicas, através de ritos. No sentido original, são os ritos (as celebrações litúrgicas) que têm esta função mistagógica de nos conduzir para dentro do mistério.
Na cultura atual, chamada de pós-moderna, onde percebemos os limites da razão, abre-se uma nova possibilidade para a liturgia como caminho mistagógico. Liturgia não é um tipo de ‘ginástica', ou uma execução de gestos mágicos ou puramente estéticos ou devocionais. Cada palavra, cada gesto, cada movimento... ‘contém' o mistério e nos faz mergulhar nele: no mistério de Deus, no mistério da vida, no mistério da história, em nosso próprio mistério.
Antigamente, na época do Catecumenato, o Tempo Pascal era dedicado à Catequese Mistagógica. Assim, aquelas pessoas que tinham sido batizadas na noite de Páscoa, recebiam uma catequese que visava “o progresso no conhecimento do Mistério Pascal através de novas explanações, sobretudo dos sacramentos recebidos e ao começo da participação integral da Comunidade” (DNC, 46 d).
Nos dias de hoje a Igreja pede que todo processo catequético tenha uma inspiração catecumenal. Isto quer dizer, entre outras coisas, que devemos valorizar mais esta dimensão mistagógica das nossas catequeses. Seria como tentar responder a esta pergunta: depois que nossos catequizandos receberam o sacramento, nós vamos fazer o que com eles?
Na catequese mistagógica, mais do que ponto de chegada, os sacramentos passam a ser ponto de partida e de crescimento da fé e da vivência cristã. Este tipo de catequese supõe um envolvimento maior da comunidade dos fiéis, uma aproximação mais orante dos Evangelhos, uma freqüência maior aos sacramentos, o aprofundamento destes mistérios celebrados na liturgia, a vivência concreta da caridade que vai consolidar a prática da fé cristã, incorporando mais profundamente o fiel à Comunidade.
Se realmente sonhamos com a Catequese Permanente, não tem como ignorar este jeito de fazer catequese. A Catequese Mistagógica é, sobretudo, litúrgica e tem um cuidado especial com a introdução do catequizando nas celebrações dominicais. De fato a verdade última da celebração não é somente o ato sacramental, mas o que nasce e continua depois dele.
Portanto, para se fazer uma boa Catequese Mistagógica, é necessário:
  • Levar o catequizando a compreender os símbolos, gestos e palavras dos sacramentos que participa, não mais a partir de conceitos abstratos, mas da experiência dos dons recebidos de Deus;
  • Ajudá-lo na interpretação dos ritos à luz da Bíblia na perspectiva da história da salvação; por isso, mais do que obrigação, a participação nos ritos passa a ser vista como uma necessidade de celebração de sua autêntica fé;
  • Inserir o catequizando na comunidade em vista da abertura ao compromisso cristão e eclesial como expressão da sua nova vida em Jesus Cristo.
Ao fazermos a programação da nossa catequese temos que prever também este tempo após a celebração dos sacramentos, que não será um simples “esticar” a catequese, mas sim parte integrante e complementar do processo. O aprendizado não se conclui com a recepção dos sacramentos e nem se esgota ao se chegar a certa idade, mas requer um constante e contínuo amadurecimento.

METODOLOGIA
Após a Crisma, os crismados continuam a se encontrar para completar sua formação cristã e sua integração na comunidade. Este período após Crisma chama-se tempo da Mistagogia. É o tempo em que os crismados procuram tirar as últimas dúvidas e esclarecer tudo o que ainda precisa ser esclarecido. É um período de grande importância para o recém crismado. Além da participação nas celebrações dominicais, terá lugar de destaque na assembléia e será lembrado na homilia e na oração dos fiéis. Com o auxílio do acompanhante, entra em relações mais estreita com a comunidade, começa a assumir serviços e a aprofundar os conhecimentos a respeito das diversas pastorais.
Os encontros podem ser no estilo de retiros ou encontros de dias inteiros, de acordo com os sacramentos recebidos e também com temas propostos pelos próprios crismados. Para encerrar recomenda-se uma celebração festiva. Cada família poderá levar um prato para partilhar, ou a comunidade providenciar outra forma. Pode-se também fazer um amigo secreto, uma gincana com perguntas relacionadas ao catecumenato crismal, um bingo e até uma brincadeira dançante.
CELEBRAÇÕES: Celebração Eucarística; Celebração da Palavra. Seria interessante encerrar esses encontros com alguma celebração. Por exemplo: celebração do Mandato Missionário e outras.
ATIVIDADES: Definir o compromisso comunitário; Dar continuidade a formação permanente; Confraternizações e Gincanas.
RESPONSÁVEIS: São responsáveis por este tempo os anteriormente citados, as lideranças em geral, com destaque para as pastorais da juventude.
CONCLUSÃO
A mistagogia é concebida como o princípio que funda e dinamiza a Iniciação Cristã de Adultos, desde o catecumenato antigo. Nos Padres da Igreja, a mistagogia se apresenta como fundamento, como caminho de iniciação cristã, como via de integração da pessoa ao Mistério de Deus. O próprio termo nos indica essa dupla vertente, pois é composto por dois elementos – o mistério e a pedagogia. Trata-se, portanto, de uma Iniciação ao Mistério de Deus, no que diz respeito à fé cristã.
Encontramos essa mesma concepção mistagógica em Ambrosio e João Crisóstomo. Ambrosio fala da força dos ritos por seu próprio simbolismo e sua linguagem luminosa, e João Crisóstomo, argumenta que apenas os iniciados podem penetrar o mistério de Deus. Compreendendo o Mistério de Deus como já presente em toda pessoa humana, pela graça que nos insere nele mesmo, os Padres da Igreja desenvolvem um processo de Iniciação Cristã que viabilize a experiência de abertura e percepção consciente da presença do mistério em si mesmo e na história.
No centro da experiência mistagógica está Jesus Cristo. Ele é o caminho, porque ninguém vai ao Pai se não por meio dele, dado que ele é vindo do Pai e ao Pai retorna, “dando-se como exemplo de porque o seguimos, dando-se o mesmo Espírito pelo qual caminhamos na sua estrada, escutamos sua voz, nos aproximamos com um coração capaz de conhecer os dons que nos tem dado”.
A patrística tem na liturgia o lugar privilegiado e central da experiência de participação no Mistério pascal. A liturgia é teologia em ato, presença dinâmica e operativa do Verbo de Deus oferecido em diálogo de comunhão aos homens. A liturgia é teologia primeira, fundamento de toda teologia segunda ou reflexão sistemática dos mistérios da fé. Por isso mesmo, a teologia dos Padres nos chega, na maior parte, expressada em um contexto litúrgico.
O primado da Iniciação é a própria iniciativa divina, da qual se coloca como mediador em unidade com a Igreja, sacramento de Jesus no mundo. Cirilo abre a porta a todos, pedindo apenas a disponibilidade da escuta interior que provoca a conversão existencial. A peculiaridade de sua linguagem não é um instrumento de comunicação, mas uma mediação mistagógica, de transmissão da verdade revelada na Palavra de Deus, na História da Salvação. Sem perder de vista as ações litúrgicas, fonte da experiência de participação no Mistério, Cirilo conduz os neófitos por caminhos já trilhados, a fim de aprofundarem e tomarem consciência da beleza e grandeza do caminho do seguimento de Jesus.
São categorias mistagógicas que se tornam fonte de sabedoria para todos os tempos: a centralidade da Liturgia, o ponto de referência na Sagrada Escritura, a comunhão com o Povo de Deus a caminho, a contemplação da presença de Deus no mundo, a consideração atenta das questões contemporâneas, o fortalecimento dos catecúmenos e neófitos para as lutas de seu cotidiano.
Em Cirilo, a mistagogia é um caminho no qual ele se insere e também se vê interpelado a aprofundar. Por isso mesmo é capaz não apenas de orientar, mas oferece o testemunho pessoal da graça fecunda de Deus, garantindo uma profunda harmonia entre seus ensinamentos e o caminho mistagógico que orienta aos neófitos.
Nas Catequeses Mistagógicas, Cirilo revela sua compreensão de mistagogia como momento interior ao mistério, do qual ele procura explicitar e convidar cada neófito a acolher o dom de Deus que recebeu. A cada passo, Cirilo vai convidando o neófito a experimentar a profunda comunicação de Deus na vida de cada pessoa, estabelecendo entre o neófito e Deus uma relação de proximidade e intimidade que se tornará, processualmente, seu referencial.
A mistagogia é uma dinâmica, que convida e impele a vida de cada pessoa que aceita o convite de Deus para essa experiência fundamental, a assumir sua vocação primeira, sua vocação cristã. Por isso mesmo, não consiste senão em viver plenamente o Mistério Pascal na própria existência cotidiana; morrer e ressuscitar diariamente com Cristo para oferecer assim ao Pai o sacrifício agradável aos seus olhos. É nesse dinamismo que a mistagogia, enquanto princípio e caminho se, torna sabedoria fontal da Igreja e em cada um dos fiéis.

BIBLIOGRAFIA
BUYST, I. E SILVA, J. A. O Mistério celebrado: memória e compromisso. São Paulo: Paulinas, 2004
CNBB. São Paulo: Paulinas, 2005
CATEQUESE. In: CNBB. Segunda semana brasileira de catequese. Doc. 84 São Paulo: Paulus, 2002
CELAM. Manual de Liturgia, vol. II. São Paulo: Paulus, 2005
CNBB. Conferencia nacional dos bispos do Brasil. Diretório Nacional de Catequese. Texto aprovado pela43ª assembléia geral Itaici – Indaiatuba – SP, 09 – 17 de Agosto de 2005. Paulinas, 2006.
Diretório Geral para a Catequese. Congregação para o clero. 5ª Ed. São Paulo: paulinas, 2009 – coleção pedagogia da fé.
PUC-RIO – Certificado digital. Nª 0420964/CA. (pesquisado na internet)

O TEMPO DA PURIFICAÇÃO E ILUMINAÇÃO

OFICINA: O TEMPO DA PURIFICAÇÃO E ILUMINAÇÃO
Pe João Paulo


O Catecumenato é o espaço de tempo, em que os candidatos recebem formação (catequese) e exercitam-se praticamente na vida cristã. Esta etapa é conduzida por catequistas que podem inclusive terem atuado como introdutores na etapa anterior.

O Tempo de Purificação e Iluminação é o período em que é intensificada a preparação para a recepção dos Sacramentos da Iniciação Cristã: Batismo, Crisma e Eucaristia.

Neste tempo, a intensa preparação espiritual, mais relacionada à vida interior que à catequese, procura purificar os corações e espíritos pelo exame de consciência, e iluminá-los por um conhecimento mais profundo de Cristo, nosso Salvador. Serve-se para isso de vários ritos, sobretudo dos escrutínios.

Os escrutínios, solenemente celebrados aos domingos, têm em vista o duplo fim de descobrir o que houver de imperfeito, fraco e mau no coração dos eleitos, para curá-los, bem como, de consolidar aquilo que houver de bom, forte e santo no mesmo coração. Esta etapa culmina com os eleitos recebendo os Sacramentos do Batismo, Crisma e/ou da Eucaristia.



1. O Tempo da Iluminação e da Purificação no catecumenato

O tempo da purificação e da iluminação dos catecúmenos coincide habitualmente com a Quaresma, porque esta, tanto na liturgia como na catequese litúrgica, por meio da recordação ou da preparação do Batismo e pela Penitência, renova a comunidade dos fiéis, juntamente com os catecúmenos, e dispõe-nos para a celebração do mistério pascal que os sacramentos da iniciação cristã aplicam a cada um.

Com o segundo degrau da iniciação cristã começa o tempo da purificação e da iluminação destinado a preparar mais intensivamente o espírito e o coração dos candidatos. Neste degrau é feita pela Igreja a «eleição» ou escolha e a admissão daqueles catecúmenos que, pelas suas disposições são idôneos para, na próxima celebração, tomarem parte nos sacramentos da iniciação. Chama-se «eleição», porque a admissão feita pela Igreja se funda na eleição de Deus, em nome de quem ela atua; chama-se «inscrição do nome», porque os candidatos escrevem o seu nome no livro dos «eleitos», como penhor de fidelidade.

Antes de celebrar a «eleição», requere-se da parte dos catecúmenos a conversão da mente e dos costumes, um conhecimento suficiente da doutrina cristã e o sentido da fé e da caridade; requere-se, além disso, o exame sobre a sua idoneidade. Depois, na própria celebração do rito, os catecúmenos manifestam a sua vontade, e o Bispo ou o seu delegado o seu parecer, diante da comunidade. Assim fica patente que a «eleição», que se reveste de tão grande solenidade, é o momento decisivo de todo o catecumenato.

A partir do dia da sua «eleição» e admissão, os catecúmenos passam a ser designados pelo nome de «eleitos». Também se dizem «competentes», porque caminham em conjunto para receberem os sacramentos de Cristo e o dom do Espírito Santo. Chamam-se também «iluminandos», porque o próprio Batismo se chama «iluminação» e porque por ele os neófitos são iluminados pela luz da fé. Contudo, em nossos dias, podem usar-se também outros termos que, segundo a diversidade das regiões e culturas, estejam mais ao alcance de todos, e sejam mais conformes o gênio das diferentes línguas.

Durante este tempo, os catecúmenos são objeto de uma preparação interior mais intensa. Esta tem mais em vista o recolhimento espiritual do que a catequese, e destina-se à purificação do coração e da mente, através do exame de consciência e da penitência, e a sua iluminação por meio do conhecimento mais aprofundado de Cristo Salvador. Tudo isto se faz por meio de vários ritos, sobretudo pelos «escrutínios» e pelas «tradições».


# Os «escrutínios», que devem ser celebrados solenemente ao domingo, têm em vista o duplo fim acima referido, a saber: pôr a descoberto o que no coração dos eleitos possa haver de fraqueza, enfermidade ou malícia, para que seja curado, e o que há de bom, válido e santo, a fim de o fortalecer. Os escrutínios destinam-se a libertar do pecado e do demônio e ao fortalecimento em Cristo que é o caminho, a verdade e a vida dos eleitos.
# As «tradições», pelas quais a Igreja entrega aos eleitos os antiquíssimos documentos da fé e da oração - o Símbolo e a Oração dominical -, têm como finalidade a sua iluminação. No Símbolo, em que se proclamam as maravilhas de Deus para salvação dos homens, os olhos dos eleitos são inundados de fé e de alegria. Na Oração dominical, reconhecem em toda a sua profundeza o novo espírito de filhos, pelo qual chamam a Deus seu Pai, sobretudo na assembleia eucarística.

1.2 – Preparação próxima para receber os sacramentos:

Como preparação próxima para os sacramentos:

1. Aconselhem-se os eleitos a que, no Sábado Santo, se abstenham, na medida do possível, das suas ocupações habitua is, consagrem o tempo à oração e ao recolhimento espiritual e observem o jejum, segundo as suas forças.
2. Neste mesmo dia, no caso de se fazer alguma reunião dos eleitos, podem celebrar-se alguns dos ritos de preparação próxima, por exemplo: a «redição» do Símbolo, o «Effathá», a escolha do nome cristão e, se ela se fizer, a unção com o Óleo dos catecúmenos.

2 – Estrutura metodológica para vivência da Purificação e iluminação na Quaresma e Tríduo Pascal

Primeiro Domingo: Celebração da Inscrição do nome e apresentação dos padrinhos (dos que vão ser batizados) e agradecimento aos introdutores/leitores. O nosso compromisso de participar da Campanha da Fraternidade. No encontro de catequese explicar os grandes acontecimentos do AT (Abraão, Moises e os Profetas).

Segundo Domingo: continuamos refletindo sobre os compromissos sociais da Campanha da Fraternidade e com a explicação dos grandes acontecimentos do AT (Abraão, Moises e os Profetas).

Terceiro Domingo: Bênção de Cristo, misericordioso. Lembramos a misericórdia de Cristo para com a Samaritana. No encontro de catequese explicar o Evangelho de João 4, 5 -42 e manifestar as maravilhas do Sacramento do Batismo e a nossa exigência para a missão.



Quarto Domingo: Bênção de Cristo, Luz do mundo. No encontro de catequese explicar o Evangelho do cego de nascença João 9, 1-41, e a nossa responsabilidade para “abrir” os olhos das pessoas para fazermos um mundo mais justo e solidário.

Quinto Domingo: Bênção do Pecado e da morte. No encontro de catequese explicar o Evangelho da revitalização de Lázaro João 11, 1-45, onde se manifesta que Cristo veio curar a humanidade anunciar a promessa de uma vida imortal.

Sexto Domingo: Domingos de Ramos e da Paixão. No encontro de catequese explicar a entrega e doação de Jesus. Explicar as leituras e especialmente o Evangelho que proclamado neste domingo, prepara-nos para entrar na Semana Maior. Comunicar as atividades e horários das celebrações.

Entramos na Semana Santa (Continua o Tempo da iluminação)

Segunda-feira Santa: Reúnem-se catequizandos com a família e aproveitem para meditar sobre a realidade do mistério redentor de Cristo e a sua misericórdia para conosco. Prepara-se para os que já foram batizados, uma liturgia da Palavra bem preparada com a Celebração penitencial.

Terça-feira Santa: Repetimos o itinerário catequético da segunda, preparado para outra turma, por exemplo, especialmente para adultos.

Quarta-feira Santa: Os catecúmenos preparam-se para meditar sobre o Tríduo Santo e nosso compromisso para trabalhar na divulgação e conscientização da Campanha da Fraternidade.

Quinta-feira Santa: Os catecúmenos preparam-se para meditar sobre os textos e a celebração da santa Ceia do Senhor; especialmente mostrando que não é possível celebrar a Eucaristia sem compromisso social. A Eucaristia é o sacramento social por excelência e Ela é quem norteia toda a nossa espiritualidade cristã.

Sexta-feira Santa: Participamos da celebração da Oração universal para a salvação de todos, Paixão e morte de Jesus, adoração da cruz e comunhão eucarística. Incentivarmos a nossa capacidade de pedir perdão e confiar na misericórdia do Senhor. Perdão pelas nossas omissões comunitárias e sociais, especialmente para com os mais pobres e vulneráveis.

Sábado Santo – Vigília Pascal: A Igreja desde cedo, segundo uma antiga tradição, se reúne para rezar junto do túmulo do Senhor. Em local a parte, os catecúmenos se reúnem para fazer uma avaliação da caminhada e dos propósitos atingidos ou não. Qual é a visão da Igreja que eles foram amadurecendo (colocação entre todos). Exame de consciência para reconhecer que somos pecadores necessitados da misericórdia do Pai e amor de Jesus que nos perdoa no Espírito. Os não batizados são ungidos com a unção pré-batismal e todos renovam a profissão de fé.



Domingo da Ressurreição: É o novo dia dos cristãos ressuscitados; possuem vida nova em Jesus. Preparam e celebram a Palavra e a Eucaristia. Após a celebração, preparar uma festa simples para festejar com todos.

A Iniciação Cristã como caminho para o encontro com Deus



Palestra: A iniciação cristã como caminho para o encontro com Deus
Pe. Dezenilton da Silva Santos

Diante da sede do infinito, presente em todo coração humano, Deus nos dá uma resposta em Cristo Jesus. Como Pedro, confessamos a nossa perplexidade e a nossa confiança nessa resposta de Deus “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavra de vida eterna” (Jo 6, 68). Consciente disso, a Igreja proclama “que chave, o centro e o fim da história humana se encontra em seu Senhor e Mestre” (GS, n. 10,2).
Com Jesus se faz presente o reino de Deus, o Mistério revelado entre nós. Nos evangelhos Jesus está a serviço do Reino de Deus que, para ele, é realidade última. Ele é o mediador absoluto e definitivo do Reino. E para compreender o que o Novo Testamento quer dizer, anunciar e propor ao falar do Reino de Deus é preciso mergulhar no Jesus histórico e em sua prática. Por sua vida, suas palavras e ações, por sua doação total na cruz e gloriosa ressurreição ele revela ao mundo o amor e o projeto de salvação do Pai que nos ama a todos. Nisso se baseia a Igreja, corpo de Cristo, portadora da sua mensagem, lugar de participação na vida nova que Jesus veio trazer. Aí se encontra o centro do anúncio, da proposta transformadora do Evangelho.
O mistério está no centro da fé
Jesus, ao falar do Reino, chama-o de mistério: “A vós é confiado o mistério do Reino de Deus” (Mc 4,11;Mt 13,11). Ser cristão é participar desse mistério e se comprometer com ele. Requer uma mudança de vida, é fruto de experiência, não apenas de conhecimento. O conceito de mistério aparece pouco mo Antigo Testamento, mas é muito usado por Paulo. Era algo bem presente nas religiões pagãs. No cristianismo adquire um sentido totalmente novo: é a presença do Reino de Deus presente em Jesus.
A mensagem final do Sínodo dos Bispos de 2008 fala na voz da Palavra, (a Revelação que ultrapassa a Bíblia), no rosto da Palavra (Jesus Cristo, Verbo que se fez um de nós), na casa da Palavra (a Igreja, como povo de Deus) e nos caminhos da Palavra (a missão, que leva a experiência a outros). Todos esses aspectos da Palavra são mergulhos no Mistério de Deus e da vida.
O termo mystérion é fundamental no Novo Testamento. Foi usado para manifestar o desígnio divino de salvação que para Paulo se concentra na pessoa de Jesus, sua vida, morte e ressurreição. Paulo contrapõe a “sabedoria humana” à “sabedoria misteriosa de Deus” (1Cor 2,7) e diz que sua missão é fazer conhecer a gloriosa riqueza deste mistério em meio aos gentios, ou seja, “o Cristo no meio de vós” (Cl 1,27) e também iniciar os cristãos “no pleno entendimento e no conhecimento do mistério de Deus, que é Cristo, no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2,2-3; cf. Ef 1,9-10; 6,19).
Iniciação: mergulho pessoal no mistério
A mensagem cristã apresenta como mistério leva naturalmente à realidade da iniciação. No nosso imaginário o mistério carrega em si algo fascinante, sublime, surpreendente, deslumbrante, inacessível ao simples mortal. Enfim, algo de divino, de fantástico e espantoso. O mistério é um segredo que se manifesta somente as iniciados. Diferentemente de outros conhecimentos ou práticas, não se tem acesso ao mistério através de um ensino teórico, ou com aquisição de certas habilidades. Para ter acesso aos divinos mistérios a pessoa precisa, de uma maneira ou de outra, ser iniciada a essas realidades maravilhosas através de experiências que marcam profundamente.
Os discípulos de Jesus, no anúncio do Evangelho, lançaram mão dessa realidade tão humana e arraigada nas culturas, de tal modo que o cristianismo foi até confundido com uma das tantas religiões iniciáticas que pululavam no Oriente Médio. Mas, algo muito mais profundo: para participar do mistério de Cristo Jesus é preciso passar por uma experiência impactante de transformação pessoal e deixar-se envolver pela ação do Espírito. O processo de transmissão da fé tornou-se, sim, iniciático em sua metodologia. A profissão e vivência da fé cristã, não são algo natural. A “alma naturalmente cristã” de que fala Tertuliano, se refere mais às generalidades da religiosidade cristã, e não tanto ao específico seguimento de Jesus e os mistérios do Reino, assumir os compromissos de seu caminho, viver a ascese requerida pela moral cristã... São realidades muito exigentes. Enfim, a verdadeira conversão ou metanóia (mudança de mentalidade) supõe uma certa maturidade humana e toca as mais profundas tendências humanas.
Existe, porém, uma tensão entre o aspecto de segredo, ligado à idéia de mistério, e a necessidade de anúncio, de proclamação da mensagem que nos foi comunicado através do que nos foi revelado em Jesus. A missão visa proclamar e fazer experimentar o mistério, não escondê-lo. Mas, ao mesmo tempo não podemos banalizar o acesso ao sagrado como se estivéssemos distribuindo algo sem conseqüências mais sérias. O querigma (primeiro anúncio, pregação missionária) é para todos; mas os mistérios são para aqueles que foram iniciados na fé.
Catecumenato: um caminho antigo e eficiente
Desde o século II, a iniciação cristã se fazia através do catecumenato. Foi uma feliz criação da Igreja, num tempo em que ela não podia contar com o apoio de uma cultura cristã na sociedade e ainda havia muito clima de segredo na prática cristã. O núcleo do próprio desenvolvimento do ano litúrgico foi gerado nesse processo. O catecúmeno, que corresponderia ao nosso catequizando de hoje, era visto como aquele “que deve ser iniciado”.   
O vocábulo da iniciação cristã foi elaborado pelos Santos Padres: refere-se às etapas  consideradas indispensáveis para mergulhar (batismo significa mergulho) no mistério de Cristo e começar a fazer parte da comunidade eclesial em espírito e verdade. O valor desse mistério de Cristo e da Igreja era experimentado e depois explicado numa vivência marcada pelo rito através de uma catequese chamada “mistagógica” (que  inicia no mistério).
Essa catequese fazia a pessoa recém batizada perceber o significado, valor e alcance dos ritos realizado. O rito, ao envolver a pessoa por inteiro, marca mais profundamente do que uma simples instrução e interioriza o que foi aprendido e proclamado, realçando a dimensão de compromisso.
Revalorizar hoje esse compromisso
Numa cultura moderna quase que pós-cristã a Igreja se vê diante da necessidade de uma tal iniciação, para formar cristãos que realmente  assumam o projeto do Reino. O estudo da CNBB “Com adultos catequese adulta” afirma: “para entender melhor a tarefa da catequese é importante aprofundar o conceito de iniciação Nossa sociedade moderna e pós-moderna perdeu, quase por completo, o elemento cultural da iniciação, tão radicado em outras culturas.” Diz ainda: “Aquilo que os ritos de iniciação representam para a vida sócio cultural de um grupo, a catequese deveria representar para a vida cristã”: é um processo profundo que integra a pessoa num outro estilo de vida.
Daí a necessidade de forma de catequese que estejam verdadeiramente a serviço da iniciação cristã, na complexidade de suas exigências. Sente-se hoje uma necessidade urgente de revisão profunda da nossa prática eclesial, para estabelecer, na função primordial, a iniciação cristã.
A importância e o lugar dos sacramentos
Ao traduzir o termo mistério do grego para o latim usou-se a palavra sacramento que na bíblia e no início do cristianismo, tinha um sentido bem amplo: eram as ações salvadoras de Deus. Nesse sentido, tudo o que a Igreja realiza é mistério como uma ação sagrada na qual o fato salvífico se faz presente no rito. A comunidade, ao celebrar o rito, toma parte na ação salvadora e recebe para si a graça divina. O Vaticano II incorporou esse conceito: fala do mistério Pascal, mistério da Igreja, mistério da salvação, plano de Deus, sacramento.
Resumindo as perspectivas do Vaticano II, os estudiosos afirmam que o mistério (nos sacramentos), a liturgia torna presente para cada crente e para todos os crentes, de qualquer época, a plena realidade da obra de salvação realizada uma vez por todas em Cristo Jesus.
Importantes na concepção de mistério são os símbolos, inspirados na experiência humana e na realidade cósmica. Ao mesmo tempo em que revelam, escondem a realidade divina que querem comunicar. Lemos no Catecismo da Igreja Católica: “A liturgia da Igreja pressupõe, integra e santifica elementos da criação e da cultura humana conferindo-lhe a dignidade de sinais da graça, da nova criação em Jesus Cristo” (n.1149). Diante disso, uma parte essencial da iniciação cristã, coroamento do processo iniciático, é justamente mistagógica.
Mas identificamos um problema nesse processo
É muito comum criticar um certo tipo de catequese, considerada sacramentalista. Com isso se quer falar do costume de fazer do sacramento uma espécie de “festa de formatura”, fim do caminho, despedida da Igreja. O sacramento vira uma espécie de costume, uma devoção a mais, sem consideração do conjunto do compromisso de fé que ele sinaliza e exige. E aí temos um desafio. Precisamos afirmar que todo verdadeiro processo catequético desemboca na celebração dos sacramentos, como momento culminante da participação no mistério de Cristo. O Vaticano II afirma que a liturgia é cume e fonte da vida cristã. O sacramento é a conseqüência de uma fé assumida, mas também realimentação contínua dessa mesma fé. Celebramos porque cremos e assumimos (é o cume, sinal máximo de vivência e compromisso), mas, ao celebrar fortalecemos essa crença e esse compromisso, nos alimentamos na fonte, o que nos leva a celebrar de novo, num processo que se auto-sustenta.
Portanto a catequese deve levar ao sacramento. Não tem sentido fazer de outro jeito. Mas, só um bom processo de iniciação Poe dar ao sacramento o lugar que lhe cabe, que não faça dele um ponto de chegada sem prosseguimento de caminho.
Uma iniciação que leve a uma real participação
Hoje vivemos na cultura em geral uma grande demanda de transcendência, de uma certa religiosidade difusa, que busca contato meio às cegas com o sagrado no torvelinho das angústias da vida. È claro que tempos que considerar esse dado, mas a iniciação cristã não é uma estratégia que busca se aproveitar das exigências desse tipo de “mercado religioso”.
A restauração do catecumenato, solicitada pela Igreja com a devida inculturação, quer retomar a dimensão mística, celebrativa, da catequese, considerando que um dos aspectos essenciais da educação da fé é levar as pessoas a uma autêntica experiência cristã, na integridade de suas várias dimensões.
Não mera ampliação do número de fiéis. É um processo de compromisso, adesão, transformação. Um documento do episcopado espanhol define assim a iniciação cristã: “a incorporação do candidato, mediante três sacramentos da iniciação, no mistério de Cristo, morto e ressuscitado, e na comunidade da Igreja, sacramento da salvação, de tal modo que o iniciado, profundamente transformado e introduzido na nova condição de vida, morte ao pecado e começa uma nova existência de plena realização. Essa inserção e transformação radical, realizado dentro do âmbito de fé da comunidade eclesial, onde o cristão vive e dá sua resposta de fé, exige, por isso mesmo, um processo gradual ou itinerário catequético que o ajude a amadurecer na fé” (Conferência Episcopal Espanhola, Iniciación Cristiana, n. 43).          
O estudo da CNBB “Com adulto catequese adulta” descreve assim a iniciação cristã: “é processo de preparação, compreensão vital e de acolhimento dos grandes segredos (mistérios) da vida nova revelada em Jesus Cristo. O cristão convencido vai, então,aprofundando a acolhida do amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo e se colocando na dinâmica do amor serviçal aos irmãos. Nesse itinerário ele vai experimentando a fé nos gestos salvíficos, nas palavras de Jesus Cristo, vividos e comunicados pela Igreja através do testemunho de vida, da Palavra, dos Sacramentos e se abrindo à esperança que não engana (escatologia). Essa era a função maior da catequese no início do cristianismo, no processo conhecido como catecumenato...” (Estudos da CNBB 80, Com adulto, catequese adulta, São Paulo: Paulus 2001. N. 103).
Natureza da iniciação cristã
Podemos descrever a natureza da iniciação cristã com algumas características. Elas, além de aprofundar seu sentido, mostra a diferença e o distanciamento com relação aos ritos mistéricos pagãos.
A Dei Verbum afirma que Deus, em sua sabedoria e imensa bondade, quis revelar-se a Si mesmo e manifestar o mistério de sua vontade: por Cristo, a Palavra feito carne e no Espírito Santo, todos podemos chegar ao Pai e participar de sua natureza divina (DV, n.2). Aí encontramos o objetivo final da iniciação cristã, seu conteúdo e, sobretudo, sua origem: ela é obra do amor de Deus. A iniciação cristã é graça benevolente e transformadora, que nos precede e nos cumula com os dons divinos em Cristo. Ela se desenvolve dentro do dinamismo trinitário: os três sacramentos, numa unidade indissolúvel, expressam a unidade da obra trinitária na iniciação cristã: o Batismo nos torna filhos do Pai, a Eucaristia nos alimenta com o Corpo de Cristo e a Confirmação nos unge com a Unção do Espírito.
Esta obra do amor de Deus se realiza na Igreja e pela Igreja mediante a Igreja. Como corpo de Cristo, sinal e germe do Reino, é a Igreja que anuncia a boa nova, acolhe e acompanha os que querem realizar um caminho de fé, coloca os fundamentos da vida cristã e principalmente incorpora a Cristo os que estão sendo iniciados pelos sacramentos da iniciação. É importante compreender bem essa dimensão eclesial. As pessoas são iniciadas no mistério de Cristo e na vida da Igreja, não na devoção particular de qualquer pessoa ou de grupo. A ação dos catequistas junto aos catecúmenos, mesmo   que se enriqueça com os dons pessoais de cada um, é palavra e ação em nome da Igreja. É através deles, e da comunidade que testemunha e apóia, que a Igreja exerce sua missão maternal de gerar novos filhos.
Este dom de Deus realizado na e pela Igreja tem um terceiro elemento: requer a decisão livre da pessoa. Pela obediência da fé a pessoa se entrega inteira e livremente a Deus e lhe oferece a homenagem total de sua inteligência e vontade. No processo ou itinerário de iniciação a pessoa é envolvida inteiramente em todas as esferas e dimensões do ser. O fracasso ou falta de perseverança no caminho da fé se deve, muitas vezes, à falta deste envolvimento total dos iniciados. Se isso é verdade para crianças e jovens, muita mais o é para os adultos.
Por fim, a iniciação cristã é a participação humana do diálogo da salvação. Somos chamados a ter uma relação filial com Deus. Com a iniciação cristã o catecúmeno começa a caminhada para Deus que irrompe em sua vida e caminha com ele. Essa vida nova, essa participação na natureza divina constitui o núcleo e coração da iniciação cristã. O iniciado, transformado e introduzido na nova condição de vida, morre ao pecado e começa uma nova existência.
Uma visão de conjunto da vida cristã
O estudo “Com adulto, catequese de adulta”, fala da iniciação cristã a partir do conjunto da missão da Igreja, propondo uma iniciação bem abrangente, que complete as várias dimensões da vida cristã: “conhecer a catequese como iniciação à vida cristã implica assumi-la como um longo processo vital de introdução dos cristãos ainda não iniciados, seja qual for sua idade, nos diversos aspectos essenciais da vida cristã. É óbvio que não se trata de tudo, o que é impossível, mas de um todo elementar e coerente, como base sólida para a caminhada rumo à maturidade em Cristo” (Estudos da CNBB 80, Com adulto, catequese adulta, São Paulo: Paulus 2001. N. 104).
É bom perceber que isso nos remete a um equilíbrio. A iniciação não vai ser uma catequese completa; mesmo uma vida inteira não basta para reconhecer e experimentar tudo que pode enriquecer a fé. Mas ela deve apresentar um panorama sem deformações que aconteceriam se faltasse alguma dimensão importante da vida da Igreja.                 

sábado, 25 de setembro de 2010

II SEMINÁRIO DIOCESANO DE CATEQUESE.

Os Catequistas participaram das oficinas e debates sobre: Pré-catecumenato, Purificação e Iluminação, Catecumenato e Mistagogia.
 Pe. Dezenilton, um dos conferencistas do evento destacou que: “A iniciação não vai ser uma catequese completa; mesmo uma vida inteira não basta para reconhecer e experimentar tudo que pode enriquecer a fé. Mas ela deve apresentar um panorama sem deformações que aconteceriam se faltasse alguma dimensão importante da vida da Igreja.
 Giselma Alves, coordenadora do encontro, enfatizou sobre a Missionaridade do Catequista enquanto discípulo de Jesus e a convicção do Batismo como compromisso de estar sempre a caminho do Reino de Deus.
Segundo Pe. Eude Gomes de Araujo coordenador Diocesano da Comissão de INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ, o evento deveria contar com um número maior de participantes, entretanto a participação favoreceu-se em qualidade.

A organização agradece:
  • Ao Reitor do Seminário Diocesano São João Maria Vianney Pe. Evanilson José Sousa;
  • Aos casais do ECC das Paróquia acolhedoras, pelo acolhimento à todos principalmente, dos que vieram do interior da Diocese;
  • Ao GRUPO EVANGELIZARTE pela animação e vivacidade propiciados ao nosso evento;
  • A PASCOM da Paróquia Sagrada Família que esteve fazendo a cobertura do evento transmitindo ao vivo pela Web Rádio;
  •  Aos Pe dezenilton, Pe João Paulo e Seminarista Aldevan a, aos casais da PASTORAL FAMILIAR: Niltinho e Isabel, Cimar e Kiara.
Encerramos nosso encontro, rendendo Graças à Deus por tudo!

  
Tema: INICIAÇÃO À VIDA CRSTÃ(fotos).





     Animando o nosso encontro: Grupo  EVANGELIZARTE
Coordenando a Comissão de Iniciação à Vida Cristã

Pe Eude Gomes
Conferência: Iniciação Cristã: novidade ou redescoberta?
 
Povo aplicado...

















 Pe Dezenilton
Conferência:A Iniciação Cristã como caminho para o ENCONTRO com Deus.  

domingo, 12 de setembro de 2010

Apesar de tudo, a Bíblia ainda vive


Geração sucede geração,
Mas a Bíblia ainda vive.
Nações surgem e desaparecem,
Mas a Bíblia ainda vive.
Reis e governantes vem e vão,
Mas a Bíblia ainda vive.
Esquecida e empoeirada num canto qualquer,
Mas a Bíblia ainda vive.
Odiada e desprezada,
Mas a Bíblia ainda vive.
Contestada pelos ateus,
Mas a Bíblia ainda vive.
Exagerada pelos fanáticos,
Mas a Bíblia ainda vive.
Mal interpretada e mal anunciada por muitos,
Mas a Bíblia ainda vive.


Ainda vive como lâmpada para os nossos pés,
Como luz para os nossos caminhos,
Como porta do céu, para os que crêem,
Como ideal para as crianças,
Como guia para a juventude,
Como inspiração para os adultos,
Como conforto para a velhice,
Como pão para os famintos,
Como água para os sedentos,
Como descanso para o fatigado,
Como graça para o cristão,
Como salvação para o pecador,
Quem a conhece procura amá-la,
Quem a ama procura aceitá-la,
Quem a aceita encontra Jesus,
E recebe a vida eterna.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

  II Seminário Diocesano de Catequese 

Tema: Iniciação à vida Cristã.

Data: 24,25 e 26 de Setembro de 2010.
Local: Seminário Diocesano - Alto Branco

Assessorias:
• INICIAÇÃO CRISTÃ: NOVIDADE OU REDESCOBERTA - Pe. Eude;
• A INICIAÇÃO COMO CAMINHO PARA O ENCONTRO COM DEUS - Pe. Dezenilton;
• CATECUMENATO: NA MINHA VIDA, NA TUA VIDA - Pe. Eude

Oficinas:
• PRÉ-CATECUMENATO - Membros da Pastoral Familiar (Niltinho e Isabel/ Cimar e Kiara);
• CATECUMENATO - Giselma Alves;
• PURIFICAÇÃO E MISTAGOGIA - Pe. João Paulo;
• MISTAGOGIA - Seminarista Aldevan.

A contribuição será de: R$ 40,00 p/Catequista.
Deverão participar os Catequistas do BATISMO, EUCARISTIA, CRISMA e PASTORAL FAMILIAR.

Animação: EVANGELIZARTE.

Coordenação: Comissão para a Iniciação Cristã Diocesana.

Todo o evento terá cobertura ao vivo pelo site http://www.sagradafamiliacg.com.br/

OBS: Quem tiver o texto da coleção Estudos da CNBB - nº 97 (Iniciação à Vida Cristã) , bem como o Diretório nacional da Catequese, deverá levá-los para o encontro.
          Os Catequistas das PARÓQUIAS DOS ZONAIS: Cariri, Brejo, Curimataú e Agreste, devem comfirmar o número de participantes para que possamos organizar as hospedagens